Morte do Partido que derrubou a inflação e estabilizou a economia
Ninguém vai segurar no caixão do PSDB?

Por seis eleições presidenciais consecutivas, o PSDB foi o principal antagonista do PT na disputa pelo comando do país. A polarização entre tucanos e petistas marcou uma era na política brasileira. Hoje, no entanto, o partido que se pretendia herdeiro do liberalismo ilustrado, da social-democracia europeia e da responsabilidade fiscal vê a sua própria decomposição. Mais, parece não haver mais ninguém interessado em assistiu ao formidável enterro de sua última quimera. Nem a ingratidão, outrora pantera nos versos do poeta paraibano Augustos dos Anjos – está sendo companheira inseparável do ocaso tucano.
A saída dos governadores Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Raquel Lyra, de Pernambuco, que se filiaram ao PSD, são as linhas do atestado de óbito de uma legenda que não soube sobreviver ao próprio legado — nem ao avanço da extrema-direita.
O PSDB nasceu no mesmo berço político que o PT, nos anos 1980, na esteira da redemocratização, formado por intelectuais, economistas e políticos forjados na resistência ao regime militar. Ambos os partidos representavam, em sua origem, a esperança de construção de uma democracia sólida, plural e moderna. As diferenças ideológicas se acirraram ao longo do tempo, mas PSDB e PT partilhavam um compromisso essencial com a institucionalidade, com o debate público qualificado e com o Estado Democrático de Direito. Pelo menos até certo ponto.
Foi a opção do PSDB pelo neoliberalismo nos anos 1990, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso, que marcou sua primeira ruptura com as bases sociais que poderiam lhe dar sustentação duradoura. O partido abandonou sua bandeira social-democrata em nome de reformas econômicas ortodoxas — privatizações, ajuste fiscal, flexibilização trabalhista — que, embora tenham trazido estabilidade econômica, também o afastaram de sindicatos, movimentos sociais e das classes populares. Tornou-se um partido de classe média urbana, mais preocupado com o mercado do que com o social, mais voltado para o capital financeiro do que para a construção de um projeto de nação.
Essa escolha de fundo teve consequências. Sem base social orgânica, o PSDB se tornou refém de ciclos eleitorais e lideranças personalistas. Pior: ao perder sucessivas eleições presidenciais para o PT, o partido foi se radicalizando. Em 2014, após a quarta derrota, Aécio Neves recusou-se a reconhecer o resultado das urnas, lançando suspeitas sobre o sistema eleitoral e abrindo caminho para um discurso golpista. A participação tucana no impeachment de Dilma Rousseff em 2016, sem que houvesse crime de responsabilidade, não apenas rasgou a liturgia democrática como pavimentou o terreno para o bolsonarismo.
A partir daí, o PSDB perdeu o rumo e o discurso. Tentou disputar espaço com a extrema-direita, mas sem jamais conseguir falar a língua do antipetismo visceral que Bolsonaro soube vocalizar. Ao mesmo tempo, tornou-se alvo da mesma radicalização que ajudou a fomentar: passou a ser visto por setores bolsonaristas como "esquerdista", "isentão", ou "comunista enrustido" — ironia cruel para um partido que arquitetou o impeachment de uma presidente eleita e desmoralizou adversários com narrativas de corrupção seletiva.
Hoje, o PSDB morre sem luto. A debandada de seus últimos quadros, possivelmente Eduardo Riedel, governador de Mato Grosso do Sul, é quem deve apagar a luz — revela um esvaziamento irreversível. A fusão com o Podemos parece que subiu no telhado. As tentativas de formar uma federação mais ampla naufragaram. Prefeitos, vereadores, deputados e lideranças regionais abandonam o partido em silêncio ou com resignação.
O que se perde com o fim do PSDB não é apenas uma sigla, mas a possibilidade de uma direita democrática, institucional, racional. Pode-se questionar se o PSDB foi de fato essa "direita civilizada". Afinal, quando teve a chance, abraçou o golpismo, flertou com o autoritarismo e ajudou a sabotar o pacto democrático. E o resultado disso é que hoje esse espaço está ocupado por forças que operam à margem da razão e da Constituição, centradas no ressentimento, na mentira e no ódio.
O caixão do PSDB está sendo levado sem cortejo, sem hino, sem lágrimas. E, ao que tudo indica, sem ninguém para segurar no caixão.
Eu acho é pouco, esse é preço que se paga por trair toda uma Nação, agora é hora de tentar se erguer em outra sigla partidária com o minimo de dignidade!
Fonte: msn
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